terça-feira, 12 de junho de 2012

lembra dele? Gralak, canhão com pés e mãos, resgata tempos de Timão

Autor de gol sobre o Santos em 1994, zagueiro vê Corinthians em desvantagem no clássico desta quarta-feira, pela Libertadores

Onze de agosto de 1994. Sob os olhares de quase 22 mil espectadores no estádio do Morumbi, o Corinthians decidia o título da Copa Bandeirantes com o Santos. O torneio daria ao campeão o direito de disputar a Copa do Brasil no ano seguinte. O Timão, que havia vencido o primeiro jogo por 6 a 3, perdia por 1 a 0, gol de Demétrius. Aos 21 minutos, o zagueiro Gralak empata, em um gol que daria o título à equipe e repercutiria no clube do Parque São Jorge por pelo menos mais dois anos.

Contratado do Paraná, o jogador destacou-se logo no início da carreira por uma habilidade peculiar: dono de porte físico avantajado, Gralak aproveitava as cobranças de lateral no campo de ataque alçando a bola na área adversária, com força e precisão. Além disso, tinha um chute potente, muito aproveitado em cobranças de falta, tanto de curta como de longa distância.

Nascido na pequena Rebouças, município de pouco mais de 14 mil habitantes no sudeste paranaense, o ex-zagueiro chegou ao Parque São Jorge em meio ao Campeonato Brasileiro de 1994 com o status de “xerifão”, para solucionar um problema na defesa: o Timão jogava com Baré e o improvisado Embu. Marcelo Djian havia sido transferido para o Lyon-FRA, e Henrique estava machucado.

Minha passagem não foi muito boa. Fiz gols importantes, mas cheguei em um pacote com
vários outros jogadores. Às vezes era aproveitado, às vezes não. É complicado, vinha muita
crítica de todo lado, mas eu tentei fazer meu melhor. Tivemos bons e maus momentos. O Corinthians é grande, um time de marca, e a pressão é gigante – analisou o ex-jogador,
atualmente com 42 anos e dono de um apart hotel em Curitiba (PR), em entrevista ao
GLOBOESPORTE.COM.

gralak corinthians (Foto: Agência Estado)Gralak ao lado de Marcelinho no Corinthians: marcado pelos arremessos laterais (Foto: Ag. Estado)
A conquista da Copa Bandeirantes, sobre o Santos, foi a última da carreira de Gralak. Ele
havia vencido o Campeonato Brasileiro da Série B em 1992 e os Paranaenses de 1991 e 1993 pelo Paraná. Nos clubes seguintes (Coritiba, Bordeaux-FRA e Istanbulspor-TUR), nenhum caneco. É justamente por isso que a lembrança do torneio permanece viva na memória: com o resultado, o Corinthians garantiria vaga – e depois o título – na Copa do Brasil de 1995. Consequentemente, voltaria à Libertadores da América em 1996, após cinco anos sem disputar a competição continental.
– Eu fiz o gol do empate contra o Santos, que nos deu o título da Copa Bandeirantes. Na
época, jogou o pessoal que não estava atuando muito no Campeonato Brasileiro. Depois, o
Corinthians ganharia a Copa do Brasil e disputaria a Libertadores. Essas vagas só vieram por
causa da nossa conquista. Eu fiz gol no Parque São Jorge contra o Novorizontino e o Araçatuba. E não me lembro de falarem muito disso, não... – relembrou o jogador.

Na decisão contra o Peixe, além de marcar o tento decisivo, Gralak foi expulso.
gralak corinthians (Foto: Agência Estado)Gralak ajudou a colocar o Timão na Copa do Brasil
de 95, que o clube ganharia (Foto: Agência Estado)
Em um intervalo de quatro meses, porém, o cenário no Corinthians mudaria. A derrota para o Palmeiras na final do Campeonato Brasileiro e o retorno do técnico Mário Sérgio ao comando da equipe, no lugar de Jair Pereira, fariam com que o “xerifão” retornasse ao seu estado de origem, para jogar em um arquirrival do clube que o revelou.
– Perdemos a final para o Palmeiras e tudo mudou. O Mário Sérgio voltou a assumir, e ele, que tinha pedido minha contratação, nem me relacionou para alguns jogos. Surgiu um convite para jogar no Coritiba, eu aceitei e, graças a Deus, fizemos um ano muito bom – disse.

Pelo Coxa, o ex-zagueiro conquistou o acesso para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 1995, como vice-campeão. O título ficaria com o Atlético-PR. Hoje, Gralak tem apenas uma ligação com o futebol: é conselheiro do Coritiba. Seu sogro, Jacob Mehl, foi presidente do clube em duas oportunidades.
Sua carreira seria encerrada precocemente, aos 31 anos, motivada por uma lesão no joelho,
quando estava no Istanbulspor, da Turquia. Durante uma crise financeira do time, o ex-
zagueiro passou a receber apenas metade do salário e, insatisfeito, entrou com um processo
contra o clube. Gralak ainda tentou continuar, com passagens-relâmpago por Coritiba e
Malutron (atual Corinthians Paranaense), mas, com muitos quilos acima do peso, não obteve
êxito.
Que força, hein, zagueirão?
A rotina de Gralak durante os treinos era diferente. Motivado pelo porte físico, o ex-zagueiro desenvolveu um complemento à postura firme na defesa: passou a treinar cobranças de lateral para a área, no campo de ataque, tornando-se especialista em “cruzamentos com as mãos”.
– Eu treinava com bolas de areia, de quatro ou cinco quilos. Chegava antes para praticar. Eu fazia musculação e sempre pratiquei esporte. Tenho diplomas e medalhas de arremesso de dardo e de peso, e meu corpo era muito avantajado. O lateral se tornou uma grande jogada para mim. Era praticamente um escanteio – explicou.
A potência do chute do ex-jogador também impressionava. Independentemente da distância, Gralak gostava de se arriscar nas cobranças de falta e, como ele próprio admite, fazia a alegria da torcida pelo “canhão”, desviando, por vezes, as críticas em relação às suas atuações. Um gol, contra o rival São Paulo, é lembrado com carinho.
– Ficamos duas semanas no Japão e, quando voltamos, pegamos o São Paulo pelo Paulistão. Fomos direto do aeroporto para o Parque São Jorge e nos concentramos. A imprensa dizia que eles ganhariam fácil. Saímos perdendo por 2 a 0, mas fui feliz e fiz o primeiro gol. Depois, o Tupãzinho empatou. Recebemos um “bicho” bom daquela vez, viu? – revelou, entre risos.
Na oportunidade, o Corinthians fez uma rápida excursão pelo Japão, onde disputou dois
amistosos: venceu o AS Flugels por 2 a 0, na cidade de Okinawa, e bateu o Hiratsuka Bellmare, em Tóquio, pelo elástico placar de 7 a 4.
Busca pela América: diferenças e semelhanças em relação ao passado
Ex-Jogador Gralak (Foto: Arquivo Pessoal)Gralak vê Santos em momento melhor, mas elogia
o Corinthians (Foto: Arquivo Pessoal)
Atualmente, a Taça Libertadores é tratada como obsessão pela torcida corintiana. Com a vaga na semifinal, contra o Santos, o time de 2012 já igualou a melhor campanha da história alvinegra, cravada em 2000, quando o Timão perdeu o lugar na decisão para o arquirrival Palmeiras. À sua época, Gralak assegura: a pressão pelo título continental era bem menor.
– Enquanto eu jogava, não se falava muito da Libertadores, não. Disputávamos também a Conmebol, jogamos em vários países... A pressão hoje é maior – admitiu.
Sobre o confronto de 180 minutos entre Corinthians e Santos, que começa nesta quarta-feira,
dia 13, às 21h50, na Vila Belmiro, o ex-zagueiro do Timão prefere não opinar, mas vê um duelo equilibrado e com ligeira vantagem para o Peixe.
– É um jogo difícil de se analisar. O momento do Santos é melhor, por ter talentos individuais
como o Neymar, mas o Corinthians é um time aguerrido e tem uma marcação muito forte,
com Ralf e Paulinho. O Jorge Henrique, por exemplo, é atacante e sai para ajudar. Muito
complicado prever qualquer coisa. Acho que o Santos tem um pouco de vantagem, mas vai ser decidido nos detalhes – analisou.
Até aqui, os zagueiros titulares do Corinthians, Leandro Castán e Chicão (que também é bom
cobrador de faltas), não marcaram gols na Libertadores. Será o momento de um defensor
voltar a decidir para o Timão, assim como Gralak fez há 18 anos?

 

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